Alter do Chão, no Pará, é o Caribe brasileiro

Depois de uma semana no Amazonas, segui minha viagem pela Amazônia no estado vizinho, o Pará. O primeiro destino (e provavelmente o mais esperado das férias) foi a vila de Alter do Chão, distrito do município de Santarém que deve ter uns 5 mil moradores, no máximo.

Nascer-do-sol na Praia do Cajueiro

O jeito mais rápido de chegar é de avião. Há voos diários para Santarém partindo de capitais como Belém, Brasília e Manaus – que foi o meu caso. O voo, com condições excelentes de tempo, demorou cerca de uma hora (por conta do fuso horário, embarquei por volta de 1 da tarde em Manaus, horário local, e cheguei umas 3 da tarde em Santarém). O aeroporto é distante de Alter e fica no meio do caminho entre o distrito e a cidade.

Há uma linha de ônibus apenas, que vai para o centro de Santarém. Para chegar a Alter você deve utilizá-la e, no meio do caminho, trocar para a linha que vai até a vila. As hospedagens em Alter geralmente oferecem transfer, com preço combinado (na minha pousada, por exemplo, o valor era de 90 reais durante o dia). Achei o preço um pouco salgado, apesar de justo (são mais de 30 km de distância).

Como estava com bagagem e um pouco estressado (a Gol havia estragado uma das minhas malas e não quis ressarcir o prejuízo), desisti de ir de ônibus e preferi pegar um táxi. De início me ofereceram a corrida por 120 reais (lá não tem taxímetro, é preço fechado), mas negociei, ameacei ir pro ponto de ônibus e no fim das contas acabei pagando 80 reais.

Pra chegar lá, há uma estrada vicinal bem conservada, mas o taxista pegou um atalho por uma estrada de terra. Foi até bom, cheguei mais rápido.

Alter do Chão já me encantou logo na chegada. Pela rua principal dá pra ver um pouco da Ilha do Amor, uma das principais atrações turísticas. Fiquei hospedado na Pousada do Tapajós, que fica a um quarteirão da praia do Cajueiro, a mais movimentada. Mais próxima ainda está a praia do CAT. Foi pra lá que corri pra dar o primeiro mergulho.

A Ilha do Amor vista da praça central de Alter do Chão

O pôr-do-sol na Praia do CAT

A água morna e totalmente transparente, a areia branquinha e nenhuma companhia por lá: o paraíso perfeito para ficar até o pôr-do-sol. Por um bom tempo tive a sensação de estar numa praia particular. Mas de repente começaram a aparecer várias pessoas, algumas delas colocando as caixas de som pra funcionar com tecnomelody (ou coisa parecida), aquele tipo de música que é bem popular na região. Mas nada que estragasse a paisagem inesquecível.

É feriado no Pará!

Quando montei o roteiro da minha viagem, deixei Alter para uma semana inteira, pois queria aproveitar a vila vazia. No fim de semana o movimento é bem maior, já que é pra lá que os moradores de Santarém fogem do calor.

Mas mal sabia eu que dia 15 de agosto é feriado estadual no Pará, em comemoração à data de adesão do estado à Independência do Brasil. Resultado: Alter do Chão ferveu em plena terça-feira. Praias lotadas, pequenos congestionamentos, restaurantes cheios. Aproveitei o dia para ficar na praia do Cajueiro e no fim da tarde fui à Ilha do Amor.

Visão panorâmica da Ilha do Amor

Para chegar lá, é necessário contratar um catraieiro. São vários fazendo o trajeto, que é bem rápido. São cobrados cinco reais, contando ida e volta. Cada catraia leva até quatro pessoas. Considerando o esforço que o catraieiro faz para remar de um ponto a outro, o transporte sai até barato. E a visão da Ilha do Amor é espetacular. Excelente custo-benefício.

A bordo da catraia na volta para Alter

Ah, as praias do Tapajós…

No dia seguinte, me juntei a um grupo da pousada para fazer um passeio de barco pelas espetaculares praias do rio Tapajós. Dividindo em seis pessoas, o valor ficou em 75 reais – muito bem investidos.

Foi um dia inteiro navegando pelo rio, passando pelas praias do Pindobal, Cajutuba, Aramanaí e Maguari. Uma mais linda que a outra, todas com aspecto caribenho. Elas só podem ser aproveitadas durante o Verão amazônico, que acontece no segundo semestre. Durante o Inverno, a grande quantidade de chuvas eleva o nível dos rios e encobre a faixa de areia.


As espetaculares praias do Rio Tapajós

A areia branquinha, a água transparente e doce e a falta de ondas tornam as praias um ambiente calmo e relaxante. Em algumas delas, mais movimentadas, há até bangalôs.

As espetaculares praias do Rio Tapajós

O almoço na praia do Aramanaí saiu por 40 reais (sem querer ser repetitivo, mas… mais uma vez foi muito bem pago). São várias opções de peixes e molhos, todos muito bem preparados e servidos.

Praia do Aramanaí

À noite, de volta à vila, quando eu saí para jantar me deparei com uma apresentação de carimbó na praça central. Totalmente por acaso, acabei presenciando uma das representações culturais mais tradicionais do Pará. A música e a dança são contagiantes.

De volta à pousada, percebi que o protetor solar não tinha sido suficiente. Virei camarão.

Protesto, mudança de planos e despedida

Na quinta-feira, eu havia planejado pegar o ônibus para conhecer Santarém. Mas um protesto dos moradores contra o aumento das passagens e de casos de violência que começaram a acontecer na pacata vila interditou a estrada que liga Alter a Santarém. Para passar, só a pé. Com sol a pino e 30 quilômetros de distância, o jeito foi desistir.

Com os planos frustrados de ir a Santarém e as queimaduras do dia anterior marcando presença, resolvi tirar o dia para relaxar e fugir do sol. Fiquei na rede lendo e fui à praia só no fim da tarde.

No dia seguinte, foi preciso pegar uma carona com um dos funcionários da pousada até o ponto de bloqueio na estrada para chegar ao aeroporto. Com mala e tudo, eu e outros dois hóspedes atravessamos a pé a manifestação até o outro lado, onde o mesmo taxista que havia me levado para Alter estava aguardando para nos levar ao aeroporto – dividimos o valor de 80 reais. Felizmente deu tudo certo e cheguei a tempo do meu voo para Belém.

Estrada fechada: o jeito foi passar a pé

Saí de Alter do Chão indescritivelmente satisfeito por ter tido a oportunidade de visitar um lugar tão único e pouco conhecido pelos próprios brasileiros. Não é à toa que foi eleita pelo jornal inglês The Guardian como a praia de água doce mais bonita do mundo.

Lá também é possível fazer outros passeios interessantes, como a visita à Floresta Nacional (Flona) do Tapajós, o Lago Verde e a trilha até o morro que fica em frente à vila para ver o nascer-do-sol. Em setembro também acontece o Sairé, festa típica que atrai milhares de visitantes ao local. Alter do Chão tem opções para todos os tipos de turistas e é visita obrigatória para quem faz turismo pela Amazônia.

Alter do Chão vista da janela do avião

No mês que vem eu volto para contar como foi minha experiência na incrível Belém. Até lá!

Texto e fotos by Rodrigo Masaia.

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