Encantos de Montevidéu – Última parte

Esta é a quarta e última parte de uma série de textos sobre o Uruguai. Nesta parte final veremos um pouco mais dos encantos de Montevidéu. Confira as outras partes clicando aqui (Parte 3 – Montevidéu), aqui (Parte 2 – Punta Del Este), e aqui (Parte 1 – Colonia de Sacramento). 

Dia 8 – Futuro, passado e presente

Na terça, resolvi seguir as dicas que estavam no painel do hostel. De todos, só não consegui ir à Fortaleza del Cerro, que fica no lado oposto ao porto, na Baía de Montevidéu. O local é afastado, numa região mais periférica, então dei preferência ao que ficava mais perto.

Na calle Colonia, em frente ao hostel, peguei o ônibus que me levaria à região de Aguada, onde estão o Mercado Agrícola, o Palácio Legislativo e a sede da Antel, estatal uruguaia de telefonia. O primeiro ponto de parada foi o mercado.

O comentário geral que vi antes da viagem, quando estava pesquisando sobre Montevidéu, era que o Mercado del Puerto poderia decepcionar quem esperasse por um lugar como o Mercado Municipal de São Paulo ou Mercado Central de Belo Horizonte. Ou até algo mais local, como o Ver-o-peso, em Belém. A dica era que o Mercado Agrícola seria o mais próximo desses exemplos que acabei de citar.

Realmente. O Agrícola tem mais cara de mercado mesmo, com quiosques vendendo queijos, vinhos, doces, roupas, artigos de papelaria, pet shop, frutas, verduras e quinquilharias. Tem também restaurantes e… um supermercado! Dentro do mercado! Qual a lógica? Não sei.


O Mercado Agrícola visto por fora e por dentro

Acabei não comprando nada por lá… A verdade é que não me encantei muito pelo lugar. Talvez tenha ido num horário ruim, logo depois de abrir mas o certo é que nada me atraiu e o que parecia ser legal era muito caro.

Em seguida fui para a torre da Antel, um edifício moderno e com um aspecto muito futurista. A arquitetura destoa do restante da cidade. Em horários restritos, é permitida a visita guiada e gratuita ao mirante instalado num dos últimos andares do prédio – o 22º, se não me engano.

De baixo para cima: a Torre da Antel vista do térreo

Cheguei no primeiro horário e não tinha mais ninguém. O recepcionista, simpático, pediu para que eu aguardasse os 20 minutos por ali. Fiquei um tempo em pé na recepção até que o porteiro, simpático, perguntou se eu gostaria de sentar. Ele liberou a catraca para mim e eu fiquei na sala de espera ao lado dos elevadores.

Enquanto aguardava, fiquei observando a movimentação das pessoas que chegavam para o trabalho. Seriam típicos funcionários de escritório, não fosse por um acessório: a bolsa térmica com a garrafa de mate.

O relógio marcou 10 da manhã e a guia, simpática, chegou para atender o primeiro grupo de visitantes, formado por… mim. O elevador panorâmico (por quê???) pelo menos foi mais rápido que o da Intendência. O mirador tem uma visão em 360° do Departamento de Montevidéu e a guia garantiu que aquele é o prédio mais alto do país (fiquei meio em dúvida por causa das gigantescas torres residenciais de Punta del Este, mas ela com certeza sabe mais do que eu).

Lá de cima, a distância arquitetônica entre o complexo da Antel – que também tem um auditório, uma creche para os filhos dos funcionários e uma loja gigantesca – e o restante da cidade é ainda maior. Fiquei com a impressão de que estava numa bolha de vidro vinda de 2030 para observar como as pessoas viviam no passado.

A vista da região central de Montevidéu no mirante da Antel. No canto direito, uma estação de trem desativada que fica ao lado do porto. A linha férrea ainda funciona, mas só vi composições de carga circulando

Também na Antel, outro ângulo do horizonte infinito uruguaio

Desci depois de mais ou menos meia hora, quando começava a segunda rodada de visitas. Quando cheguei ao térreo, o hall estava lotado de turistas. Outra vez me senti com sorte. (Será que só eu sabia do primeiro horário às 10h?)

Na volta, hora de conhecer o Palácio Legislativo, que é gigantesco. Construído em estilo neoclássico, foi inaugurado na década de 1920 e fica no entroncamento de trêss largas e movimentadas avenidas: a General Flores, a De Las Leyes e a Graciada. Para os pedestres, há apenas duas faixas, sem semáforo. Aí bateu a dúvida: como atravessar até o meio da praça onde está o palácio? A resposta veio em seguida, quando um cara começou a atravessar com um carrinho de bebê. Era padrão europeu: quando o pedestre bota o pé no asfalto, o motorista para na hora; alguns até ligam o pisca-alerta para avisar quem vem atrás.

Os fundos do Palácio Legislativo vistos do outro lado da larga De La Leyes, onde começa a Gral. Flores. Travessia um pouco assustadora mas relativamente tranquila para pedestres. No canto superior direito é possível ver o topo da Torre da Antel


Na imagem superior, a fachada do Palácio, de frente para a De Las Leyes. Na imagem inferior, a vista da avenida De Las Leyes do topo da escadaria

A administração do parlamento também oferece visitas em espanhol, inglês e português. Para turistas estrangeiros, é cobrada uma taxa de US$ 3 (com as taxas de câmbio à época, paguei uns R$ 13). Como a  visita em português seria só à tarde, optei pela em espanhol. O grupo era formado por três pessoas: eu, outro brasileiro e um espanhol – no fim das contas, faria mais sentido a visita ser em português.

A imponência que o palácio tem por fora também é a mesma internamente. A arquitetura, a decoração, os materiais utilizados, a riqueza de detalhes… tudo é de tirar o fôlego. No salão principal, à esquerda fica a Câmara dos Deputados e à direita o Senado. Entre as portas das duas casas, cercada e protegida por dois guardas está o livro original da Constituição Uruguaia. Chamam a atenção o piso de mármore, os vitrais italianos e os enormes quadros. Uma bela biblioteca também é aberta para consulta pública.

O livro original da Constituição Uruguaia guardado por dois guardas no centro do salão principal do Palácio

Como em fevereiro os parlamentares ainda estão em recesso, também foi possível entrar nos plenários. Na Câmara, última parada da visita, mais uma vez a presença de Artigas: além de sua própria bandeira, que constantemente é vista ao lado da uruguaia, também há uma frase dita pelo general em 1819 no congresso uruguaio: “Mi autoridad emana de vosotros e y ella cesa por vuestra presencia soberana”, como um lembrete de que eles estão ali para representar e atender aos interesses do povo.

Nesta parte, a guia começou a falar sobre a situação política do país. Ela confessou que sente a população indiferente quanto aos rumos da política (Brasil, é você?) e que, enquanto é idolatrado ao redor do mundo, o ex-presidente e atual senador José “Pepe” Mujica divide opiniões dentro do Uruguai. Também deu uma aula interessante sobre a atuação dos três principais partidos do país: o Colorado, o Nacional e a Frente Ampla de Mujica e Tabaré Vázquez, antecessor e sucessor de Pepe no comando do executivo. O partido de centro-esquerda completará ao fim do atual mandato 15 anos no poder. Além disso, a Frente é detentora de metade das cadeiras do congresso (50 de 99 deputados e 15 de 30 senadores).


Respectivamente, o Senado e a Câmara dos Deputados uruguaios

Fui andando novamente até a Ciudad Vieja – a meta para a tarde era pedalar pela rambla. O hostel tinha algumas bikes para alugar, mas era bem caro (tipo R$ 60 por uma diária). Havia me informado num centro de informações turísticas sobre outras locadoras e a melhor solução que encontrei foi o Movete, serviço oferecido pela Intendencia de Montevideo. São bicicletas públicas que ficam espalhadas em oito estações ao redor da Ciudad Vieja. Para os montevideanos, é possível fazer o uso do serviço com o cartão utilizado para pagar a passagem dos ônibus. Para turistas estrangeiros, a alternativa é ir até o escritório do Movete, próximo ao Mercado del Puerto e fazer o cadastro.

A atendente me entregou um boleto no valor de UY$ 260 para ser pago numa Abitab (espécie de casa lotérica) na rua de baixo. Com a taxa paga, recebi um cartão que me daria direito a oito horas de aluguel não consecutivas (é possível usar duas horas num dia, outras duas no outro e por aí vai).

Infelizmente, só há estações na Ciudad Vieja, mas nada impede que você saia pedalando para onde quiser. E foi o que eu fiz. Fui do Mercado até a rambla com o intuito de ir até onde fosse possível, sabendo que eu precisaria devolver a bicicleta até as 20h – quando as estações saem de operação.

A paisagem é espetacular. O rio da Prata de um lado e a vida de Montevidéu do outro. É possível ver pescadores, banhistas e cachorros mergulhando (a água na região oeste é fedida e suja, mas isso não espantava os corajosos), ciclistas e corredores. Era notável que as pessoas ali têm uma qualidade de vida superior. E elas aproveitam enquanto podem, já que o vento (como sempre) é muito forte e depois do verão deve ser impossível ficar por ali durante muito tempo.

Banhistas e cães corajosos se refrescando no rio da Prata no trecho do bairro de Palermo. Ao fundo, a Playa Ramírez

Passei pelos bairros Sur e Palermo até chegar à Playa Ramirez, onde estão a sede do Parlamento do Mercosul e o carismático Parque Rodó. Aquele me pareceu ser o ponto mais limpo de toda a rambla. Segui o percurso, parando às vezes para tirar algumas fotos. Cheguei à Punta Brava, onde está o farol de Montevidéu, infelizmente fechado para visitas. Ali também há um pequeno parque, onde havia diversas famílias brincando e aproveitando as sombras das árvores para refrescar aquele forte calor. Seguindo adiante encontrei uma estação de tratamento de esgotos e, no extremo da península, uma grande área aberta com vários carros estacionados.

Fiquei pensando porque tantos veículos parados ali, já que não havia nenhum grande ponto de interesse ao redor. A resposta veio rápido: todos os carros tinham casais dentro. Logo saquei que ali era uma espécie de drive in comunitário e que eu estava sobrando. Voltei à rambla e passei por Punta Carretas e Pocitos até chegar ao letreiro de Montevidéu, que fica quase na divisa com Buceo, um dos últimos bairros da costa da capital em direção ao leste. No total, foram umas duas horas de pedalada, considerando as paradas.

O Farol de Montevidéu, na Punta Brava

Com a temperatura alta agravando as condições físicas deste sedentário que aqui escreve, decidi que era hora de voltar. Presenciei a chegada das pessoas que vinham depois do expediente para tomar mate, eventualmente fumar maconha, conversar, dar risada e admirar o pôr-do-sol. Enquanto isso, o número de carros na avenida aumentava e percebi que aquele era o horário de pico deles. Senti inveja. Os principais pontos de congestionamento existiam apenas por conta dos semáforos. E mesmo que o trânsito parasse, a vista valia a pena.

O congestionamento montevideano

Devolvi a bike na estação atrás do Teatro Solís quando já escurecia. Peguei o ônibus de volta para o hostel (paguei mais barato! Há uma linha central cujo boleto custa apenas UY$ 19). Já não via a hora de tomar um banho. Mais tarde, antes de dormir, fiquei pensando na quantidade de experiências que tivera naquele dia.

Na altura do Barrio Sur, uruguaios aproveitam para tomar mate e correr enquanto o sol se põe lentamente

Pude testemunhar Montevidéu de diferentes formas. Do alto, de baixo, andando, pedalando, de ônibus, de carro, trabalhando, passeando, nadando, relaxando, tomando mate. Vivendo. É isso. Montevidéu é uma cidade viva!

Dia 9 – Pocitos poderia ser Ipanema. Poderia…

Deixei para o último dia alguns dos passeios mais tradicionais para se fazer em Montevidéu. Comecei pelo Parque Rodó, que fica entre a Boulevard General Artigas e a Playa Ramirez. Logo depois do café da manhã, saí a pé do hostel. Foram uns 20 minutos de caminhada até lá, com direito a parada numa banca para comprar a edição do dia do El País, principal jornal do país.

Não consegui identificar bem ao certo em qual momento entrei no parque, assim como no dia que fui ao Centenário (que fica dentro do Parque Battle). Aos poucos as ruas foram ficando ainda mais arborizadas e com menos construções. Quando me dei conta, já estava no parque. Mais uma vez, chamou a atenção a quantidade de famílias passeando. Havia muitas crianças com seus pais e avós, mesmo sendo meio de semana. O lago – uma versão micro do que existe no Parque Ibirapuera, em São Paulo – não aparentava ser dos mais limpos, mas não chegava a estragar a paisagem.

Avó passeando com os netos no Rodó

No Rodó você também encontra um coreto, fontes, parque de diversões, uma faculdade, um clube, um museu e até um estádio de futebol, o Luís Franzini, que pertence ao Defensor Sporting. Depois de um tempo andando, sentei para ler o jornal. Só faltou o mate para eu me sentir um local.

Como bom jornalista, não pude deixar de ir embora sem conhecer o principal jornal do Uruguai. Leitura agradável numa manhã ensolarada no Rodó

Durante o passeio acabei encontrando por acaso o Silvio, amigo brasileiro que havia conhecido em Colônia e depois encontrado novamente em La Barra. Pegamos um ônibus para a Ciudad Vieja e dessa vez o que me chamou a atenção foi um adesivo sobre a janela, pedindo para que as pessoas não consumissem mate ali dentro, pois por conta da movimentação do veículo existe o risco da bebida queimar os passageiros. Soou bizarro para mim, mas é totalmente adequado à rotina deles.

O adesivo com o aviso inusitado no ônibus

Mais uma vez, foi super tranquilo usar o transporte público uruguaio (valeu, Moovit). O objetivo de ir à região central era, provavelmente, um dos mais esperados por mim: almoçar no Mercado del Puerto. Depois de passar umas duas vezes em frente a ele, finalmente o conheci por dentro. Os corredores são estreitos e não há muita ventilação. Resultado: a fumaça dos diversos restaurantes fica um pouco enclausurada, mas nada que chegue a incomodar.

Nem a câmera resistiu… com tanta carne sendo assada ao mesmo tempo, até a lente ficou engordurada

Difícil mesmo é escolher onde comer… cada parrilla é mais bonita que a outra. Só que em geral você paga pela refeição completa, com todos os tipos de carne (incluindo riñones e chorizo). Não lembro o valor exato, mas achei caro e pesado, porque era meu último dia por lá e eu pretendia andar bastante. Optamos então por um dos restaurantes do lado de fora. Perguntei pra recepcionista se aceitavam Mastercard e ela disse que sim. Mas na hora de pagar… PÁ! Só Visa. Por sorte, eles aceitavam real a R$1 por UY$ 8, o que acabou valendo a pena também. Comi um vacio espetacular com fritas e, pela primeira vez no Uruguai, arroz! Mal conseguia acreditar que estava comendo arroz depois de tanto tempo. Contando a garrafa de Patrícia e o cubierto, gastei uns R$ 75, com a conversão da época.

O Silvio estava hospedado em Pocitos e eu ainda queria conhecer melhor o bairro. Depois do almoço, fomos a pé até o ponto de ônibus em frente ao Teatro Solís, depois de passar naquela casa de câmbio que tinha a melhor taxa pro real na Ciudad Vieja. Eu peguei o ônibus para o Che (obrigado de novo, Moovit) e ele voltou para Pocitos.

(AVISO: O PRÓXIMO PARÁGRAFO É PROVAVELMENTE O MAIS DESAGRADÁVEL DO TEXTO, PRINCIPALMENTE SE VOCÊ ESTIVER COMENDO ENQUANTO LÊ. PULE PARA O PRÓXIMO SE FOR O CASO.)

E ainda bem que eu voltei pro hostel! Assim que eu botei os pés no quarto, aconteceu uma revolução no meu estômago. No dia anterior, eu havia almoçado duas empanadas de mariscos num restaurante da Ciudad Vieja. Na noite anterior elas já haviam se manifestado, mas discretamente. Só que depois do almoço no mercado, com a ajuda do calor e da caminhada, o efeito deve ter potencializado e eu pensei que passaria o resto da minha vida no banheiro do quarto. Felizmente tudo se resolveu em menos de uma hora.

Pois bem. Depois da parada estratégica, botei a sunga e a toalha na mochila e fui pra Pocitos. O problema é que já era fim de tarde e a temperatura estava em declínio, um pouco mais frio do que o dia anterior, inclusive. Mas mesmo assim eu arrisquei e entrei na água, porque não queria voltar ao Brasil sem ter essa experiência. A faixa de areia é bem limpa, mas o rio… bom… digamos apenas que eu saí com cheiro de alga. A água era bem verde e o cheiro muito forte. Veredito: é o tipo de coisa que você deve fazer pelo menos uma vez na vida. Aí depois você tira suas conclusões.

Depois do mergulho frustrado, eu e o Silvio ficamos conversando na rambla, observando o vai-e-vem dos – quase todos luxuosos – carros, ônibus, ciclistas, corredores, pedestres e cachorros. Enquanto o sol se punha, os bancos e as muretas ficavam cada vez mais cheios de grupos de amigos que sentavam ali para conversar, tomar mate e, eventualmente, fumar maconha. Mais uma vez, fiquei com a impressão de que eles tinham uma qualidade de vida melhor que a minha. Meu fim de tarde em São Paulo consiste em pegar metrô e ônibus lotados torcendo pra não acontecer nada de errado e eu conseguir chegar em casa num tempo razoavelmente bom.

Os prédios de alto padrão, as ruas arborizadas, a rambla hiper movimentada e a praia. A impressão que fiquei é de que Pocitos poderia ser Ipanema. Só que aí lembrei da água verde e vi que a comparação só é válida no futuro do pretérito mesmo.


Na foto acima, a movimentação um pouco caótica de carros na rambla e uma típica rua de Pocitos, arborizada e repleta de prédios

Caiu a noite e fomos de ônibus ao Montevideo Shopping para jantar. De repente, entendi porque a temperatura havia caído tanto. Começou a cair um pé d´água. Deu pra molhar um pouco no caminho do ponto até a entrada do shopping. Comemos e esperamos a chuva diminuir. Passando por uma loja da Puma, pensei em comprar uma camisa do Peñarol. Mas se no Brasil camisas de times já são caras, lá no Uruguai é absurdo. Custava mais de R$ 400. Desencanei. Rápida passada pelo Tienda Inglesa, supermercado anexo ao shopping e depois a despedida.

Quase 22 horas quando peguei o ônibus que me deixaria próximo ao hostel. Numa reta só pela Avenida General Rivera, a viagem foi rápida. Aí veio o receio de andar a pé pelas ruas do bairro Cordón àquela hora depois de chegar ao ponto de parada. Só que foi mais a sensação de insegurança que o paulistano está acostumado a conviver do que qualquer outra coisa. O máximo que aconteceu foi uma abordagem de um morador de rua pedindo dinheiro. Apesar de estar em curva ascendente, o nível de criminalidade no Uruguai nem se compara ao nosso.

Dia 10 – A última caminhada, o último alfajor e o vinho no último minuto

Eis que chegou o nada aguardado dia. Ok, já estava com vontade de ir pra casa. Mas ao mesmo tempo estava com a sensação de que poderia ter ficado mais tempo por lá. Aproveitei minha última manhã em Montevidéu para caminhar pela Boulevard Artigas, que ainda não tinha conhecido bem.

Foi minha forma de me despedir do Uruguai. Não fiz nada além de andar, observando os casarões, as praças, as árvores… Tudo já deixava o gostinho de saudade.

Voltei para o hostel, tomei café da manhã, arrumei as malas, fiz o check out e saí. Duas ruas abaixo, na Daniel Muñoz, há um ponto de ônibus intermunicipais (interdepartamentales) em frente a uma praça. Enquanto esperava por algum que passasse pelo Aeroporto de Carrasco, observei que duas policiais estavam conversando. Isso é o que mais vi policiais fazendo em Montevidéu. Eles praticamente não têm trabalho. Depois de uns vinte minutos esperando, já ficando agoniado pensando que não daria tempo de pegar o meu voo, vi a cena que fechou com chave de ouro a viagem.

Policiais ajudam idosa a carregar sacolas até sua casa no bairro Tres Cruces

Uma senhora idosa voltava do supermercado com várias sacolas nas mãos. As policiais, assim que a viram, foram ajudá-la. Acompanharam-na até a porta de casa e depois voltaram para a ronda na praça. Foi um exemplo final da cumplicidade dos uruguaios e uma demonstração prática de que o respeito que eles têm com os antepassados não é limitado aos grandes heróis da história do país. É uma questão cultural.

Em outubro de 2014 os uruguaios decidiram em plebiscito não baixar a maioridade penal de 18 para 16 anos. A hashtag #uruguaynobaja foi utilizada na campanha dos que eram contrários à medida

Enfim, o ônibus chegou, paguei os UY$ 51 e uns 40 minutos depois estava no aeroporto. Despachei a mala e fui a um quiosque para ver o que conseguia fazer com os poucos pesos que ainda haviam sobrado. Deu pra comprar outro El País (a distração nas duas horas e meia de viagem de volta) e o derradeiro alfajor.

Ainda deu tempo de dar uma volta pelo saguão do moderno e lindo aeroporto e reparar um erro na duty free: comprar uma garrafa de vinho uruguaio. Uma semana depois, o merlot safra 2013 da Bodega Bauza, uma das mais famosas do país, fez sucesso no jantar em família e acabou deixando saudades. O pretexto final para voltar logo àquele país apaixonante, que consegue te cativar de tantas formas diferentes.

A última paisagem do Uruguai. Logo após a decolagem, a vista de Ciudad de la Costa, vizinha ao Aeroporto de Carrasco e à margem do rio da Prata

Texto e fotos by Rodrigo Masaia.

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