O que você não deve perder em Puerto Varas – Parte 1

Você já pensou em fazer uma viagem quase sem planejamento nenhum? Um destino que lhe foi sugerido de “última hora” e você simplesmente abraçou a causa? Uma daquelas viagens que poderia soar completamente absurda num primeiro instante, mas que depois de realizada, seria uma das melhores que você já teve? O texto dessa semana segue essa toada. Um projeto inicial frustrado, cujo resultado não poderia ser melhor, em nenhum aspecto.

Adoro períodos malucos em viagens. Nada dos convencionais 4, 5 ou 7 dias. Sempre adiciono dias aos meus passeios, pois sempre imagino que o lugar pode ser muito bom, e me arrepender caso tenha que voltar antes. Felizmente, nunca me dei mal nessa decisão. Por sinal, mais e mais vezes decido por prolongar minha passagem por onde quer que seja. E isso nem chega a influenciar fortemente o valor final, pois no fim das contas seria apenas mais um dia de hotel, e algum gasto com as refeições do dia, que muitas vezes não alcançam valores estratosféricos.

Nesse sentido, sempre procuro fazer uma combinação de cidades. Imagine viajar para a Argentina, e passar 12 dias em Buenos Aires? Não que seja algo impossível. A cidade tem muitas opções que preencheriam esses 12 dias facilmente… e muito provavelmente outros 12… e muitos dias mais… mas num período corrido de férias, colocar no roteiro uma cidade principal e um destino secundário sempre pareceu a decisão mais acertada.

Seguindo essas ideias iniciais, eu e minha co-pilota de viagens, planejamos durante um tempo um passeio que contemplasse Mendoza, na Argentina. A cidade parecia encantadora por seu lado mais rústico. A possibilidade de acompanhar o lado mais natureza, a produção de vinhos na região, talvez encarar um rolê a cavalo, enfim, o típico destino bem charmoso para as férias.

Combinamos com um pulo em Buenos Aires. A capital portenha serviria de cereja para o nosso bolo. O lado mais civilizado, das compras, dos cafés, das longas caminhadas pela cidade.

Tudo estava certo, ou pelo menos parecia certo, quando se iniciou uma greve no país que acabou alterando os planos. Esperamos algumas semanas para ver se a situação se resolvia naturalmente. Muitos ainda dizem que foi frescura, mas quando soubemos que as manifestações interferiam, inclusive, na distribuição de comida, rapidamente cancelamos os projetos iniciais. Estávamos às vésperas das férias, com um plano inicial fadado ao fracasso, e sem termos pensado num plano B.

Aqui cabe um parêntese. Depois dessa vez, e após outra que encaramos uma greve in loco, em outra um vulcão, outra um terremoto, até uma situação de salvamento nacional e uma crise humanitária, aprendemos que era importante ter um plano B, e até um plano C para nossas viagens. Volto a escrever a respeito desses perrengues futuramente, mas lembre-se sempre de ter mais de um destino programado, caso a ideia inicial não seja fechada.

Das opções que se encaixavam nos mesmos valores, e num processo de renovação dos nossos passaportes, nosso destino nos levaria ao Chile. Mas visitar Santiago não seria suficiente. Queríamos mais. E eis que em um anúncio de jornal apareceu uma sugestão de pacote que incluía Puerto Varas como prato principal.

Conhecer a Região dos Lagos pareceu sensacional, e de fato, a viagem se transformaria em uma combinação de excepcionais experiências, que transformaria nosso jeito de viajar.

O pacote inicial sugeria 8 dias, sendo 3 em Santiago e 5 em Puerto Varas. Nosso pacote, alterado, foi fechado (invertido) com 6 dias em Puerto Varas e 4 em Santiago. Viagem comprada, malas prontas, data fechada, vamos ao passeio.


A viagem a Puerto Varas inclui um aéreo de duas horas que sai de Santiago rumo a Puerto Montt, que está a 25 km de Puerto Varas. A parte final da viagem é feita via rodovia, e o caminho já permite uma belíssima contemplação das belezas da região. As montanhas, as casas construídas no estilo alemão, colonizadores da região, a natureza, os lagos, os vulcões.


Puerto Varas está dentro da Região dos Lagos no Chile. A cidade está localizada na beirinha do Lago Llanquihue, que numa primeira vista mais parece uma praia, por causa das grandes ondas provocadas pelos fortes ventos. Se você não gosta de frio e chuva, então deve se manter longe da cidade. Mas pra quem é fã dum bom frio, assim como eu, e não liga para chuvas em 359 dos 364 dias do ano, então é o seu destino perfeito.


 
Imagine um povoado com casas típicas de arquitetura alemã, multicoloridas, rodeada por natureza, um centro comercial bem charmoso, com bons restaurantes, boa variedade de lojas de artesanato, e até um cassino. Esse é o resumo do que é Puerto Varas. Todos os detalhes extras ficam fora da cidade, como vulcões, lagos maravilhosos para se admirar o pôr-do-sol, fazendas de lhamas e avestruzes, e belas montanhas para fazer trilhas e caminhadas.


Pra começar, ficamos hospedados no Hotel Los Alerces, que além do hotel tem algumas cabanas para quem prefere uma experiência ainda mais íntima. Simplesmente fantástico. Se você busca um local romântico, com bom preço, quartos super aconchegantes, bela paisagem, e um café da manhã que assusta pela imensa variedade. Está um pouco longe do centro, mas nada que uma deliciosa caminhada ou um pequeno trajeto de ônibus que custa menos de 50 centavos não resolva. O sistema de calefação dos quartos mantém tudo quentinho e acordar com as janelas embaçadas dá uma sensação de conforto sem igual (e preguiça… rsrs).


Rola um city tour, mas é até sacanagem chama-lo assim, porque a cidade é tão pequena, que é possível conhece-la quase na totalidade em uma caminhada. O passeio começa mesmo em Puerto Montt e o seu mercado municipal. Chance para conhecer de pertinho a centolla (tipo de caranguejo extremamente grande que é um dos pratos típicos em todo Chile… eles explicam que um só desses “monstros” alimenta até 4 pessoas… confesso que não experimentei porque sou meio avesso a qualquer coisa que venha do mar, mesmo assim, achei super curioso ver esse bichão de pertinho).


 Aproveite essa parada para umas comprinhas. Além do lado mais culinário, existem muitas opções de artesanato, e roupas, cachecóis, lenços, luvas, gorros, de lã, de lhama, e tudo mais que você puder imaginar. Os preços são bem bacanas, mas fique esperto, pois muitas das barraquinhas só aceitam dinheiro.


O tour segue para uma visita à igreja de madeira de Puerto Montt, e uma rápida passagem por algumas construções importantes, como o hospital e o colégio alemães, e um mirante muito bacana, onde é possível avistar o porto e um bom pedaço do Oceano Pacífico, que ao contrário do lago Llanquihue, não tem onda nenhuma.


De volta a Puerto Varas, rápida passagem pelo centro para um almoço no restaurante Las Buenas Brasas. O local tem uma mão brasileira, ou se você preferir é daqueles restaurantes pra fazer o turista brasileiro se sentir em casa. Alguns funcionários falam português. O menu engloba todos os tipos de peixes e frutos do mar, boa variedade de carnes, e se você for chato igual eu sou, até um prato à base de frango criado em cima da hora.


Pausa para outro parêntese. Foi no restaurante Las Buenas Brasas que aprendi que a hora de la siesta é sagrada. Sim, a cidade costuma parar pela hora do almoço, e só retoma as atividades depois das 14 horas. Acontece que logo nesse dia houve um problema com a máquina de cartões de crédito, e eles estavam aceitando apenas dinheiro para pagamento. Eu, claro, havia deixado o dinheiro no hotel, e fui correr atrás da casa de câmbio (fica em uma galeria ao lado do restaurante), mas como era hora do almoço o que aconteceu? Encontrei a bendita casa de câmbio fechadíssima, e como o tour precisava continuar, como pagar a conta? Por sorte aceitaram que pagássemos em reais, e assim não foi necessário lavar pratos…


Seguimos então com o city  tour para uma rápida visualização das principais construções dos arredores. No início da noite, ficamos pelo centro da cidade, ao invés de retornar para o hotel. Aproveitamos para uma passagem pelo cassino. É preciso pagar cerca de 10 dólares para entrar na casa, mas com muito jeitinho conseguimos convencer os seguranças que queríamos apenas conhecer rapidamente o local, e não precisamos pagar pela “entrada”. Não sou um fanático por jogos de azar, e não vi nada que mudasse minha opinião lá dentro.

O movimento ainda era fraco no começo da noite, por isso havia apenas algumas pessoas em determinadas mesas. Tudo muito limpo, muito iluminado, com vasos, carpetes, um segundo andar que permite ver o movimento do piso inferior, algumas máquinas caça-níqueis. Bonito, mas essa rápida passagem foi suficiente para o que pretendíamos. Saímos do cassino e fomos até o centro para encarar um belo pedaço de bolo e um chocolate quente delicioso em uma grande doceira que existe muito perto dali.

Tempo de retornar ao hotel para um pit stop reparador. Afinal de contas, o passeio do dia seguinte nos levaria ao vulcão Osorno. Com chance de neve. E aproveitando o pit stop, vou fazer uma breve parada no texto para que vocês não se cansem. Mas não se preocupe, pois a parte final do meu tour por Puerto Varas chega em meu próximo post. Por isso, não deixe de acompanhar nossas postagens, e o final dessa jornada maravilhosa pelo extremo sul do Chile. Não perca!!!

Texto e fotos by Ricardo Seripierro

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